Adrian Lamo

O renegado

Em 2003, Adrian Lamo invadiu o sistema do jornal The New York Times apenas para incluir a si mesmo na lista de colaboradores. O jornal não achou graça na brincadeira e denunciou Lamo ao FBI. Em 2004, ele se declarou culpado da invasão e de também ter acessado os sistemas do Yahoo!, Microsoft e WorldCom, recebendo sentença de seis meses de prisão domiciliar na casa dos pais e mais dois anos de liberdade vigiada.

Seis anos depois, ele se tornou um renegado na comunidade hacker quando veio à público ele denunciara ao FBI o soldado Bradley Manning, 22 anos, analista de inteligência do exército americano, como o responsável pelo vazamento de informações confidenciais sobre a Guerra do Iraque, inclusive do polêmico vídeo em que um helicóptero Apache dispara contra civis. Manning, que aparentemente agiu contra a guerra, procurou Lamo em busca de apoio após saber, pela revista Wired, que o hacker era portador da Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Considerava os dois “almas irmãs”, mas Lamo disse que denunciando Manning salvaria vidas de militares americanos em combate.

Caiu, a partir de então, em desgraça com os ex-fãs. O site sueco Wikileaks, que publicou na internet o vídeo do ataque de helicóptero, chamou-o de ‘notório ladrão de informação e manipulador’. Lamo, hoje um consultor de segurança de empresas, também vive a situação inusitada de ser cumprimentado, graças a seu “patriotismo”, por pessoas que antes o criticavam pela vida de hacker.


Albert Gonzalez

O milionário

Albert Gonzalez teve uma vida de riqueza graças às habilidades de hacker. Sua casa em um condomínio de Miami, na Flórida, foi comprada por US$ 1,65 milhão. Tinha carros de luxo e mulheres. Dava festas, estava sempre em bebedeiras. Com a ajuda de um programa criado por um amigo, ele invadiu os sistemas de lojas como 7-Eleven. Se apoderou de algo como 170 milhões de números de cartões de crédito e dados dos clientes. Os roubos ocorreram entre 2005 e 2007. Os dados eram vendidos na internet. Com os cartões, Gonzalez fazia compras fraudulentas, vendendo os produtos também na web. O esquema é considerado a maior fraude da história. Ao mesmo tempo era informante do Serviço Secreto dos Estados Unidos. Seu trabalho era justamente combater hackers.

Finalmente descoberto e preso, recebeu sentença em 2010, condenado a 20 anos de prisão, pena reduzida em cinco anos diante das alegações do hacker de que é viciado em computadores desde a infância, além de ter abusado do álcool e das drogas por vários anos e ter sintomas da Síndrome de Asperger, uma forma de autismo. A pena, contudo, poderia ser aumentada, já que ele enfrentava acusações em mais dois processos. Uma curiosidade: os US$ 75 mil que Gonzalez recebeu do Serviço Secreto americano por seus serviços são o mesmo valor que ele gastou apenas em uma festa de aniversário nos “bons” tempos.

François Cousteix

O estreante do Twitter

François Cousteix, um francês de 26 anos, não pensou pequeno para se tornar célebre. Em 2009 ele hackeou nada menos do que o homem mais poderoso do mundo: o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O Tribunal de Clemont-Ferrand, na França, condenou-o a cinco meses de liberdade. ‘Eu não sou um hacker, ou ao menos sou um hacker amável’, alegou durante a prisão, argumento que não convenceu as autoridades francesas.

Conhecido como Hacker Croll, François conseguiu uma senha de administrador do Twitter graças a um programa que faz um ataque de força bruta, testando várias senhas de login até uma ser aceita. Acessou a conta de Obama, da estrela pop Britney Spears e de serviços como Fox News e Facebook. Dados confidenciais do Twitter, como a estratégia diante da concorrência com o Facebook, foram publicadas em um site de hackers.

A ação de François, confirmada por um dos fundadores do Twitter, Biz Stone, atraiu a atenção do FBI que colaborou com a polícia francesa para sua descoberta e captura. O jovem, que tem diploma de formação profissional em Eletrônica, se defendeu no julgamento alegando que não destruiu nenhuma informação e que o delito foi uma ‘ação preventiva para alertar os internautas’ sobre a escolha de suas senhas de acesso. Não convenceu o tribunal.

Andrew Auernheimer

O trapalhão

Pode alguém ser inteligente o bastante para ser o primeiro a se apoderar dos e-mails e informações pessoais de cem mil usuários do iPad recém-lançado, entre eles alguns ilustres, como o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, e ainda assim acabar preso por uma mancada completamente idiota? Não? Conheça a história de Andrew Auernheimer.

Auernheimer, conhecido na comunidade hacker pelos apelidos de ‘Escher’ e ‘Weev’, foi preso após dar um nome falso a policiais em uma ocorrência de estacionamento proibido. Enquanto o caso era investigado, o Goatse Security, o grupo de hackers do qual fazia parte, repassou a um site as informações obtidas no desbloqueio do iPad, arranhando um pouco a imagem da Apple e da operadora de telecomunicações AT&T no que diz respeito à segurança.

O caso levou o FBI a dar uma busca na residência dele, encontrando cocaína, ecstasy, LSD e vários medicamentos proibidos. Resultado: Auernheimer acabou preso por posse de drogas e se encontra em um centro de detenção do Arkansas, deixando uma lição para outros hackers: se for irritar a Apple e o governo americano ao mesmo tempo, é bom tomar cuidado com o que guarda em casa.

 

Kevin Mitnick

O ícone pop

Na “mitologia” hacker, dificilmente um nome poderá superar o de Kevin Mitnick, 46 anos. Através dos anos 80, até 1995, ele invadiu sistemas telefônicos e de empresas, ludibriou o FBI e a partir de certo ponto foi um criminoso procurado e protagonista da maior espetacular caçada cibernética já vista. Mesmo 15 anos após sua prisão e mais de dez anos depois de ter sido libertado o hoje consultor e autor de livros sobre segurança de sistemas ainda é considerado o maior hacker de todos os tempos. Sua fama se deve à sua ousadia. Descoberto algumas vezes, continuou suas atividades.

Chegou até mesmo a viajar a Israel com um nome falso e viveu na clandestinidade até ser descoberto por outro hacker: Tsutomu Shimomura, um respeitado especialista do Centro Nacional de Supercomputação em San Diego. Mitnick acabou descoberto e preso em fevereiro de 1995. Condenado, passou cinco anos na prisão e mesmo libertado, no ano 2000, ainda teve que ficar mais três anos longe de computadores. A partir de 2003, longe das atividades criminosas, passou a trabalhar contra hackers, tornando sistemas inexpugnáveis. Na Campus Party em São Paulo, em 2010, criticou os hackers de hoje: “Hackers, na minha época, eram apenas indivíduos interessados em roubar o fruto proibido, o conhecimento. Hoje é tudo sobre dinheiro’.

 

Tsutomu Shimomura

O samurai

O japonês Tsutomu Shimomura, 45 anos, cientista da computação e especialista em segurança de sistemas radicado nos Estados Unidos, estava viajando no dia de Natal de 1994 quando seu computador pessoal, conectado ao Centro Nacional de Supercomputação dos Estados Unidos, foi invadido por Kevin Mitnick. O “convite”, feito por Mitnick, marca a maior caçada ocorrida entre dois hackers.

Shimomura, com a reputação abalada pela ousadia do hacker, aceitou o desafio, montando armadilhas para Mitnick em colaboração com o FBI. Primeiro colocou a gravação de seu telefonema na internet, provocando-o. Mitnick ligou novamente para repreendê-lo.

O telefone já era monitorado 24 horas por dia pelo FBI na terceira mensagem do hacker renegado. O FBI rastreou um sinal suspeito em um prédio na cidade de Raleigh, na Carolina do Norte, onde Mitnick foi preso. Diz a lenda que quando se viram frente a frente se cumprimentaram silenciosamente.

Depois da prisão, Shimoura escreveu um livro, Takedown, lançado em 1997, sobre a caçada. Ainda trabalha com segurança de sistemas.

Robert Tapan Morris

O pioneiro

Mal havia sido criada uma lei contra cibercrimes quando Robert Tapan Morris criou o primeiro vírus do tipo worm – que faz cópias de si mesmo automaticamente, passando de um computador para o outro – a se espalhar na internet. Então estudante da Universidade de Cornell, filho do ex-cientista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos Robert Morris, ele alegadamente pretendia ver qual era o verdadeiro tamanho da web de então.

O worm, todavia, se reproduziu descontroladamente afetando o funcionamento de seis mil computadores, equivalentes a 10% da internet na época, até inutilizá-los completamente. Os prejuízos em cada sistema afetado variou entre US$ 20 mil e US$ 500 mil e mostrou o perigo que viriam a ser os vírus na web.

A suposta curiosidade, apenas, de Morris não impediu que fosse a primeira pessoa a ser processada com base na lei de Abuso e Fraude de Computadores dos Estados Unidos. Acabou condenado a três anos de prisão em 1990, mas não cumpriu pena. Em vez disso, pagou multa de US$ 10 mil e prestou 400 horas de serviços comunitários.

Após os problemas com a Justiça, ele passou a se dedicar à vida acadêmica. Atualmente, aos 46 anos, é professor no Massachusetts Institute of Technology (MIT), a mesma instituição de onde disseminou o worm, consultor de empresas de tecnologia e um dos criadores da linguagem de programação Arc.

Kevin Poulsen

O jornalista

Quem conhece o jornalista Kevin Poulsen, 46 anos, hoje editor da revista Wired , talvez não se dê conta de que está diante de um dos maiores hackers de todos os tempos. Ele completa o trio – os outros dois são Kevin Mitnick e Adrian Lamo – dos mais conhecidos invasores de sistemas.

Entre outros feitos, reativava números das Páginas Amarelas norte-americanas, mas seu “trabalho” mais reconhecido foi, em 1990, controlar as linhas telefônicas de uma rádio da cidade de Los Angeles e, assim, garantir que seria a 102ª pessoa a ligar e ganhar um Porsche. A fraude foi descoberta e, com o FBI no encalço, “Watchman”, como era conhecido, se tornou um criminoso procurado. Na época, a rede de TV NBC mostrou em um programa sobre crimes não-solucionados, sofrendo um pane nas mesas telefônicas abertas para telefonemas a respeito de pistas. Quem estava por trás da falha? Poulsen.

Em 1991, o hacker finalmente foi preso e condenado, três anos depois, a 51 meses de prisão e indenização de US$ 56 mil por fraudes em computadores, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça. Libertado, reinventou-se como jornalista, criando um site, Security Focus News, respeitado na cobertura de tecnologia. Desde 2005 é editor da Wired.

Em outubro de 2006, Poulsen montou uma operação contra pedófilos no MySpace, usando páginas para rastrear quem estava em busca de crianças, levando à prisão um deles, Andrew Lubrano.

Gary Mckinnon

O ufologista

Há quem acredite em discos voadores. Há quem discuta se os governos escondem informações sobre objetos voadores não identificados. O escocês Gary McKinnon, 46 anos, achou que discutir não bastava e, supostamente para saber se Ovnis existem ou não, perpetrou o maior ataque já ocorrido contra computadores militares dos Estados Unidos.

Em 2002, o Pentágono admitiu que McKinnon invadiu e danificou 53 computadores do comando das Forças Armadas, do Exército, Força Aérea e Nasa, acessando dados secretos, tornando inoperante o distrito militar de Washington e causando prejuízos de cerca de US$ 1 milhão. As fotos de supostos Ovnis que obteve foram colocadas na internet anos depois.

Conhecido como “Solo” no mundo hacker, McKinnon acabou indiciado em sete crimes nos Estados Unidos e foi preso na Grã-Bretanha. McKinnon nunca negou as acusações de invasão, garantindo apenas que sua intenção não era a espionagem, como diz o Pentágono. Em 2009, a Corte Suprema da Inglaterra decidiu pela extradição. Como argumento para ficar na Inglaterra, declarou ser portador de autismo e depressão – constatados por uma junta médica.

Atualmente o hacker ainda tenta permanecer na Grã-Bretanha. Sua mãe, Janis Sharp, move uma campanha pela permanência do filho no país. Músicos como Peter Gabriel, Sting, Bob Geldof e o grupo Marillion participaram, em 2008, de um concerto em apoio à campanha.

Kim Schmitz

O extravagante

O fundador do Megaupload – site para compartilhamento de arquivos -, Kim Schmitz, conhecido como Dotcom, tinha mais de 15 carros na garagem da casa avaliada em US$ 30 milhões que alugava em Auckland, na Nova Zelândia. Entre um Rolls-Royce Phantom 2008 e um Cadillac 1950 cor-de-rosa, modelos com placas ‘máfia’, ‘deus’ e ‘culpado’ chamaram a atenção quando o empresário alemão foi preso em 20 de janeiro deste ano.

A acusação dos Estados Unidos, que pede a extradição de Dotcom, é de que o site, fechado pelo FBI, facilitava o download de conteúdos protegidos, o que teria causado um prejuízo de US$ 500 milhões aos detentores dos direitos autorais. Além disso, o Megaupload teria somado lucros ilegais de US$ 175 milhões. Dotcom e três outros diretores presos também são acusados de lavagem de dinheiro.

Na Nova Zelândia, o alemão conseguiu visto de residência como investidor, e tem mais de US$ 8 milhões em títulos do Tesouro nacional. O montante fez o governo local acreditar que o benefício que Dotcom levaria ao país era maior do que os riscos que oferecia. Por isso, a administração deixou de lado a condenação a 20 meses de prisão, dada dez anos antes na Alemanha, por ‘negociar informações confidencias’ – segundo suas próprias palavras.

A imagem de ex-preso levou os vizinhos de Dotcom a ficarem preocupadas com sua presença no bairro, e eles escreveram um e-mail para o alemão. Na resposta, o empresário teria dito: ‘apareça para um café, e não esqueça a cocaína (brincadeira)’. A lista de extravagâncias do fundador do Megaupload ainda inclui um vício em Call of Duty: Modern Warfare 3, jogo em que conseguiu chegar ao topo do ranking mundial. O feito exigiu 13 horas de dedicação, teve registro em vídeo do YouTube e foi comemorado com confetes e bolo pelos amigos de Dotcom. Segundo ele, o site fechado por pirataria tinha entre seus usuários membros do governo e militares norte-americanos

Fonte: Matéria publicada no Site do Terra notícias.

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